Skip to main content

 

Por Juliana Mendonça.

 

Acho que a advocacia surgiu para mim desde sempre, só eu que não sabia. Eu era daquelas alunas que sempre chegava antes do horário. Se a escola ou alguma empresa fazia algo que eu julgava incorreto eu ia atrás de quem quer que fosse para mudar – e conseguia. Adorava um abaixo assinado, guardar documentos, tudo por escrito, por favor.

Aos 15 anos de idade terminei o segundo grau (terceiro ano) em Araguaína-TO e tinha que escolher o que fazer para o resto da vida. Eu fazia aqueles testes vocacionais e em muitos apareciam a profissão de jornalista, mas também pensei em ser dentista, biomédica, dentre outras profissões… Minha mãe, então, me fez uma única pergunta: você se vê trabalhando com uma vestimenta toda branca ou em um tailleur? Eu respondi que não gostava de branco. Ela disse: já está decidido, você será advogada em Goiânia. Eu AMEI a ideia.

Não imaginava, todavia, as dificuldades que ainda estariam por vir.

Aos recém-completados 16 anos, sem minha família, me mudei para Goiânia. Não foi fácil, horas e horas de estudo, pois meu único desejo à época era ter boas notas para poder ir mais cedo para casa e curtir as férias com a minha família. No início, era tão comum pegar um ônibus na sexta-feira às 19 horas e chegar em Araguaína às 11 horas da manhã do sábado, após 17 horas de estrada e ainda voltar no domingo às 19 horas e chegar em Goiânia às 11 horas da segunda, mais 17 horas de estrada, ficava com minha família menos de 48 horas mas para mim já era maravilhoso, somente para não sentir a solidão de um final de semana.

Quando fiz 18 anos (entre o 5º e 6º período da faculdade) procurei um estágio e tive muita dificuldade para conseguir, pois não conhecia ninguém ligado ao direito que pudesse me dar uma oportunidade. Depois de muito distribuir currículo, me apareceu a oportunidade com um professor da faculdade, um trabalho não remunerado na 4ª vara de família e sucessões, o que para mim foi a glória, me sentia responsável e capaz. Achava tão importante conviver com a linguagem jurídica e com colegas, tanto aprendizado pessoal e profissional que jamais poderia esquecer.

A partir dessa oportunidade, fui convidada a trabalhar como estagiária em um bom escritório de advocacia, onde aprendi a advogar, atender clientes, fazer peças, fazer audiências, ser perspicaz, argumentar e perder a timidez que ainda persiste em mim.

Pedi demissão e depois de um tempo abri a sociedade com uma grande amiga, Maria Helena. A sociedade durou dois anos e eu adorava, porém, não atuava somente com direito do trabalho – que é minha paixão – e aquele ramo do direito que me deu a primeira oportunidade, direito de família, me perseguia naquele momento. Como era o início da carreira, não podia escolher com o que trabalhar, fazia, então, direito de família, médico, família, consumidor, família, falimentar, família, cível, família, bancário, família, trabalhista, mais família, família e família.

A sociedade estava em ascensão, já conseguíamos ganhar um dinheirinho bom quando resolvi fazer uma seleção para trabalhar exclusivamente na área trabalhista do escritório Rodovalho Advogados sob a supervisão do Rafael Lara. Quando me chamaram foi muito difícil falar para minha família e para minha sócia que estava deixando uma sociedade para me tornar empregada novamente, todos foram contra e em alguns momentos, ainda que em tom de brincadeira me questionaram se eu não estaria maluca (risos), mas acho que naquele momento tomei a decisão certa.

Quando meu atual sócio, Rafael Lara, decidiu abrir a Lara Martins Advogados e me convidou, juntamente com o Felipe Noleto e o Fabricio Barcelos, para fazer parte do quadro societário, nesse momento, tive a certeza de que o que fiz foi a materialização do ditado: às vezes é preciso dar dois passos para trás e pegar impulso para ir muito mais longe do que imaginamos.

Nesses quase 10 anos de carreira já deixei meus convidados sem a minha presença em dois aniversários, cancelei viagens de férias com familiares ou voltei mais cedo, deixei de ir a inúmeras comemorações, mas não mudaria em nada tudo o que vivi e ainda vou viver pela advocacia.

A advocacia me leva para lugares que nunca imaginava estar e a fazer coisas que nem se imagina que um advogado pudesse fazer, e quer saber, é isso que eu gosto e quero para sempre. Amém!

Até aqui só tenho a agradecer a Deus, à minha família, aos meus sócios antigos e atuais, aos amigos e colegas de faculdade, de escritório, aos professores e aos chefes que tive. Que a advocacia continue me provocando, pois o prazer que esse grande desafio me proporciona faz meus dias melhores.